
No dia 25 de Novembro Ana Virgínia e Emerson realizaram uma entrevista com o Nirez sobre a Catedral que relatou vários fatos interessantes. Ele mostrou algumas fotos bem antigas da construção e de tudo que tinha ao seu redor.
Segundo ele, haviam sido construídas no local outras duas igrejas, a primeira em 1746, e outra, a igreja da Sé, em 1821. As duas tiveram que ser derrubadas por causa de rachaduras na estrutura, em 1939 foi iniciada a construção da Catedral. Uma curiosidade é que tanto a Catedral como a Igreja da Sé demoraram quase quarenta anos para serem terminadas. O arcebispo responsável pela antiga Sé, que foi derrubada em 1938, era Dom Manuel da Silva Gomes, que na época, deixou nossa paróquia por um tempo e foi a Salvador salvar uma igreja, quando voltou, decidiu demolir a igreja de São José. Segundo avaliação na estrutura, havia muitas rachaduras e a igreja precisava ser demolida. O secretário dele era o Padre Quinderé, que renunciou ao cargo por não aceitar a decisão de Dom Manuel.
“Acho que a Catedral atual poderia ter sido construída em outro local, não precisava ter derrubado a anterior, havia muitos locais para construí-la.”
No projeto não houve outras opções de locais para construção da Catedral. O arcebispo estabeleceu que fosse lá mesmo e derrubou logo a outra igreja. Tudo que tinha dentro da Sé foi transferido para a igreja do Rosário que ficou atuando como Catedral até a construção ser terminada.
No que ele relatou as pessoas participaram de modo geral ativamente do processo de construção da Catedral. Muitos colaboravam e ajudavam, outros colaboravam esporadicamente, outros se empenhavam, trabalhavam de verdade, existia até os que eram contra, que diziam que a Catedral não ia ser terminada nunca, eram desenganados, falavam que a construção estava demorando por que ainda faltava muito padre comprar automóvel. Os que não acreditavam, ainda caçoavam.
O fim das construções era esperado por todos. Tanto que quando foi completada a primeira torre houve uma festa de inauguração, na segunda nem tanto, mas quando foi completamente terminada houve uma grande festa de inauguração.
Muitas pessoas importantes compravam coisas para a catedral, doavam dinheiro, faziam festas, festivais, tudo em prol da catedral. Havia uma papeleta para doações na conta da Coelce, da mesma forma que hoje há o pedido de ajuda à Santa Casa. Os Vitrais, que vieram de fora do Brasil, foram doados por Virgílio Távora.
“Era interessante para os políticos, mas eles não se envolviam muito porque a construção não andava e não rendia voto.”
Para Nirez a demora na construção da catedral foi por conta da grandiosidade do projeto, era preciso muito dinheiro, muito trabalho. Ele acha a arquitetura da Catedral muito grande. O interessante é que havia um projeto de outro arquiteto que não foi aprovado, mas não ouvimos falar muito sobre isso.
Apesar de eu achar que a Catedral deveria ter sido construída em outro lugar, estrategicamente ela está bem localizada, é muito bonita e tem espaço para todos os lados. Arquitetonicamente impressiona. Se você olhar a Catedral de longe, você acha que as portas são enormes, mas quando chega perto, vê que não são tão grandes assim. O efeito é interessante, ela foi bem trabalhada arquitetonicamente de um jeito que não foi preciso colocar portas enormes realmente. Os vitrais vieram de fora e parece que esses vitrais do exterior têm mesmo uma qualidade melhor, as cores são mais vivas.
Em relação ao ambiente ao redor da Catedral, mudou muito da época da construção até os dias de hoje. Tinha muitas casas históricas ali próximo, casas de Brigadeiros, gente importante. Hoje existem muitos armazéns e lojas. A praça em frente é bem antiga, da época dos escravos, se chama Praça Caio Prado.
Do lado direito, era o Hotel Central, que depois de fechado passou a funcionar uma repartição pública. Atrás sempre foi aquele muro. No lado esquerdo, na Rua Sobral, que era chamada na época de travessa Baturité, sempre foi comércio.
No quarteirão do Hotel Central até perto do mar tinham casas. Dom Helder Campos morava ali próximo, tinha também a Capitania dos Portos, de um lado e outro eram residências, na década de cinqüenta, muitas das residências se transformaram em armazéns de couro, o cheiro era muito ruim.
Do lado poente da Praça Caio Prado tinha o Hotel Bitú que recebia pessoas do interior do estado. O verde próximo à catedral é por conta do riacho Pajeú, você pode olhar nas fotos aéreas, onde tem um caminho de árvores é por conta do riacho.
E hoje o centro da cidade é o maior pólo de comércio de Fortaleza. Quando foi perguntado sobre a relação entre o comércio e a fé ele nos relatou que não há como mudar a condição do comércio próximo da catedral. Não há mais possibilidade de terem residências naquela região do centro, nem hotéis existem mais por lá. Sabemos que a Catedral é freqüentada pelas pessoas que vão ao mercado e turistas que passam por ali, isso é uma realidade. A Catedral tem servido muito para celebrar missas e solenidades importantes. Para ser mais conhecida, é preciso divulgar mais, fazer mais festividades, solenidades. O público que a frequenta são compradores mesmo, ninguém vai sair da sua casa para ir à Catedral.
Foi perguntado sobre a insegurança que ocorre próximo à Catedral
“Sou suspeito para falar sobre violência, estou com setenta e cinco anos e ando na Catedral, nas praças, ruas do centro e nunca fui assaltado, nunca vi ninguém ser assaltado, ando de carro, paro no sinal, dou esmola e nunca me aconteceu nada.”
E para finalizar foi pedido para ele fazer uma avaliação sobre a importância da Catedral para a cidade de Fortaleza
“A Catedral é muito importante por sua representação dentro do cenário religioso católico, só precisa de mais incentivo à visitação para ser mais conhecida e mais movimentada.”
Inara Brito
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